02 maio 2010

Venezuelanas são recordistas em cirurgias plásticas estéticas na América Latina



Mariana Timóteo da Costa


CARACAS - Roupa justa, cabelo liso e comprido, seios fartos exibidos em decotes generosos, unhas longas e muita maquiagem num rosto cujo nariz é arrebitado e os lábios, fartos. É este o look de uma mulher considerada bela na Venezuela. Um país onde participar de um concurso de miss é o sonho da maioria das meninas, onde existe um salão de beleza em cada esquina e clínicas de estética estão sempre cheias, e onde, atualmente, se realiza mais cirurgias plásticas per capita na América Latina, superando o Brasil.

Segundo Ramón Zapata, diretor da Sociedade Venezuelana de Cirurgia Plástica, pelo menos 90 mil mulheres se operam por ano no país - numa população feminina de 14 milhões (0,64%). No Brasil, com 92 milhões de mulheres, o número de cirurgias é de 528 mil (0,57%). E mais: enquanto no Brasil há pudor em relatar o quanto se faz em nome da beleza, aqui ninguém tem vergonha de esconder esta que é uma verdadeira obsessão nacional.

A ex-miss Giselle Reyes, de 43 anos, por exemplo, conta orgulhosa que pôs silicone nos seios e afinou o nariz, que "era feio, como o de boa parte das venezuelanas, por conta da mistura racial". Seios e nariz são as duas cirurgias mais populares, e cada uma pode custar de R$ 2 mil a R$ 6 mil.

Giselle foi miss pelo estado de Vargas em 1985. Dez anos depois, abriu a Universidade da Beleza Giselle's, localizada numa bela casa em Altamira, bairro nobre de Caracas. Ali, não apenas prepara meninas a partir dos 5 anos para serem modelos e participarem dos concursos de miss, como também oferece cursos de etiqueta, maquiagem e consultoria de beleza para mulheres de até 40 anos. Ela torce seu narizinho arrebitado para "feministas mal-ajambradas", que criticam este tipo de comportamento.

- Perseguir a beleza faz parte de nossa cultura, e falar que se fez uma cirurgia não é motivo de vergonha, e sim sinal de status - diz ela, lembrando que ser modelo e miss abre portas e é uma forma de ascensão social, pois a maioria consegue emprego como atriz ou apresentadora de TV.

Além da questão cultural, há a econômica. Fazer tratamento estético, ou mesmo cirurgia, é muito simples e não fere tanto o orçamento, como lembra Ramón Zapata. Além de o salário-mínimo da Venezuela estar entre os mais altos da região, em torno de R$ 800, em todo o país há filiais da Locatel, um automercado de saúde. Em parceria com o Banesco - o maior banco privado da Venezuela - a empresa oferece produtos e serviços de beleza a preços acessíveis.

" A gente quer ficar bonita para a gente mesma, faz bem para a autoestima "

- A cliente faz uma espécie de cartão de crédito e pode financiar seu tratamento, ou cirurgia, em até 36 vezes - explica o médico, lembrando que a Sociedade Venezuela de Cirurgia Plástica só recomenda operações em moças a partir dos 18 anos.

A vendedora de loja Doris Gonçalves, de 28 anos, financiou os 470ml de silicone que pôs em cada seio há oito meses. Ela diz que, ao todo, vai pagar - em três anos - cerca de nove mil bolívares fortes (R$ 3 mil), e que jamais poderia fazer isso com o salário que ganha, em torno de mil reais.

- O peito ficou enorme, mas eu adorei. Foi ótimo para a minha autoestima - diz ela, que gasta "quase a metade do salário com a aparência".

Uma pesquisa da empresa Datos mostrou que a realidade de Doris é comum à de muitas: 46,9% das venezuelanas afirmaram não estarem dispostas a abrir mão de cuidar da beleza, mesmo com a crise econômica. Elas preferem deixar de fazer cursos profissionalizantes, por exemplo, a parar de ir ao salão ou comprar batom. Segundo um levantamento da revista de negócios "Business", o mercado da cosmética movimenta US$ 600 milhões anuais, colocando a Venezuela entre os principais consumidores de maquiagem e perfume do mundo.

" Vivermos numa sociedade machista, que sobrevaloriza a beleza em vez do intelecto. "

Luisana Gomez, psicóloga do Centro de Estudos da Mulher da Universidade Central da Venezuela, acredita que suas compatriotas atravessam uma série crise de identidade, buscando seguir um estereótipo de beleza irreal sem relação com sua etnia.

- Somos mais negras e índias do que europeias. Temos nariz largo, peito pequeno, cabelos crespos e somos baixinhas. O contrário do ideal. É uma luta fútil contra nós mesmas que só pode trazer frustração - diz Luisana, que culpa a indústria do entretenimento pelo problema. - Mas culpo mais ainda o fato de vivermos numa sociedade machista, que sobrevaloriza a beleza em vez do intelecto.

Para Giselle Reyes, a explicação não convence:

- As feministas não sabem que mulher se embeleza para as outras mulheres? Não sabem que os homens nunca reparam em nada? A gente quer ficar bonita para a gente mesma, faz bem para a autoestima.

http://oglobo.globo.com/
foto: bellezavenezolana.net

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