29 setembro 2008

As "misses" mestiças de uma Suíça globalizada

Legenda da foto: Whitney Toyloy ganhou no sábado em Lugano o título de Miss Suíça 2008. À sua direita, a segunda colocada, Rekha Datta. (Keystone/Karl Mathis) (Keystone)
Whitney Toyloy ganhou no sábado em Lugano o título de Miss Suíça 2008. À sua direita, a segunda colocada, Rekha Datta. (Keystone/Karl Mathis)

Por suas origens congolesa, espanhola, turca, indiana ou iugoslava, as candidatas à Miss Suíça representavam uma realidade demográfica multicultural, o que não agrada a todos os helvéticos.

Os retratos das 16 jovens tornam evidente uma coisa: Heidi, personagem literária e "principal embaixadora" da Suíça, não encarna mais o tipo ideal de mulher helvética.

Urbanas, morenas, mestiças, mais do que loiras do campo: as 16 aspirantes a Miss Suíça, que concorreram sábado (27/09), refletiam fielmente o desenvolvimento demográfico da Suíça contemporânea.

Restava saber até que ponto a população nacional se identificava com o espelho que o concurso pretendia ser. A eleição da "rainha da beleza" foi um sinal: os telespectadores, mulheres e homens, e o público presente, escolheram Whitney Toyloy, 18 anos. A segunda colocada foi Rekha Datta, de origem indiana.

Antes do concurso, "houve uma batalha simbólica entre uma encantadora jurista loira de Zurique (Katja Diethelm) e uma estupenda representante de Genebra (Nancy Kabika), originária de Kinshasa", comenta o publicitário zuriquense Klaus J. Stöhlker. Diethelm classificou Kabika e as outras concorrentes de incultas, mas, no sábado, foi eliminada na primeira votação.

Uma Suíça globalizada

Segundo Stöhlker, a identidade nacional é uma questão que continua dividindo o país. "A Suiça é multicultural, o que não é problema algum para a Suíça globalizada. Mas também temos uma Suíça mais nacional, para não dizer nacionalista, para a qual esta multiculturalidade é problemática", explica.

"Este concurso é um sinal para a classe média, que se mostra demasiado conservadora, especialmente na região de língua alemã, que é mais homogênea em termos de população do que a de expressão francesa."

Um ponto de vista que é compartilhado pelo sociólogo Sandro Cattacin: "A aspiração à abertura a tudo que é diferente varia segundo as épocas e o clima econômico. Nos anos de 1980, a Suíça vivia uma grande abertura, enquanto atualmente a situação endureceu consideravelmente".

Um racismo persistente

Uma realidade que Stöhlker ilustra com uma anedota. "Também existiu a época do 'Apartheid'. Durante um encontro em Zurique entre o presidente sul-africano Pieter Botha e grandes empresários suíços e estadunidenses, uma participante exclamou: 'aqui está ótimo, não há negros'. Então, um dos empresários suíços replicou: 'em nosso país não temos necessidade de um 'Apartheid', o custo de vida resolve tudo".

Um espírito racista que ainda persiste. "Nos povoados, especialmente na Suíça alemã, os jovens são muito conservadores e as pessoas de origem africana sofrem agressões freqüentes", diz Stöhlker.

"Com exceção das localidades da Suíça francófona (particularmente Genebra), os habitantes de origem africana são pouco visíveis na Suíça, se comparados com outros grupos de origem estrangeira", explica.

Razão pela qual a publicidade lançada a favor da candidata Nancy Kabikaun, de Genebra, às vésperas da eleição da Miss Suíça, é mais importante do que parece. Na opinião de Cattacin, "todas as manifestações públicas que apresentam uma imagem positiva das diferenças favorecem a convivência".

O sociólogo ressalta a importância de experiências similares, como "a seleção suíça de futebol ou a delegação nacional nos Jogos Olímpicos de Pequim, que contam com atletas de diversos origens e que defendem com orgulho as cores helvéticas. Isso permite ensinar que se pode conviver e se ajudar para enfrentar desafios comuns".

Todos diferentes, todos juntos

A evolução multicultural da Suíça gera questionamentos acerca dos fundamentos da identidade nacional, que alguns crêem estar sendo minada pelo crescente comunitarismo.

Cattacin não tem medo. "Vivemos em uma sociedade plural, mais do que multicultural. E isso cria relações fundadas no respeito e não na influência de um sobre o outro. Estamos conscientes de que essas diferenças acarretam novas interpretações e inovações favoráveis a toda a sociedade."

Cattacin cita como exemplo a economia suíça: "A diferença é considerada um valor agregado. É o caso hoje, numa economia flexibilizada e baseada na inovação. Isso supõe, com certeza, uma institucionalização mais forte dessa Suíça plural e voltada ao futuro".

swissinfo, Fréderic बुर्नंद

http://www.swissinfo.ch/

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