02 fevereiro 2013

Miss Brasil 1974 - Sandra Guimarães








Sandra, meio Leila Diniz, meio Bardot, nossa antimiss

Aos 57 anos, a ex-miss Brasil Sandra Guimarães de Oliveira continua bonita, irreverente e generosa

Sidnei Quartier
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Ela foi miss Ribeirão, Miss São Paulo e Miss Brasil. Nas Filipinas, disputando o Miss Universo, não levou o título, mas brilhou. Não só pela sua beleza e simplicidade, mas também pela maneira com que "peitava" o protocolo e tratava o povo filipino.
Sandra de Oliveira Guimarães, na verdade, sempre esteve mais para Leila Diniz do que para Marta Rocha. Bonita por natureza, de uma exuberância fora do normal, sempre foi muito extrovertida, pessoa de grandes amizades. Na época do concurso, ainda solteira, vivia em Ribeirão Preto, com a família, mãe, pai e dois irmãos, num apartamento confortável, na antiga rua das Paineiras, a uma quadra da avenida 9 de Julho. E estudava em São Paulo.
Na vida, casou-se duas vezes, descasou-se, foi repórter da Rede Globo, no Rio, bar-woman na boate de José Victor Oliva, professora de português em favela, cozinheira de moqueca de siri num restaurante em Salvador, Bahia. Hoje, tem um ateliê de decoração em Piracicaba e é tradutora de italiano.
Mas gosta mesmo é de ligar todo dia para Jonas, 31 anos, seu único filho, e de cuidar dos animais que mantém em sua casa de colonos numa fazenda, em Rio das Pedras, perto de Piracicaba. Vive lá há 15 anos e não troca essa casa no campo por nenhuma balada metropolitana.
De vez em quando viaja, dá um giro pela Europa, toma um banho de cultura no roteiro de São Paulo, vê muito teatro e cinema. E volta para o campo, onde se diverte andando de charrete com o povo mais simples.
Meio Bardot 
Aos 57 anos, Sandra continua bonita, irreverente e generosa. E livre. Casamento de novo, nem pensar. É um pouco Brigitte Bardot. Gosta muito de animais. Dá banho em seus dois cavalos apaloosa, conversa com os outros: um carneiro, uma ovelha e seis cães - dois galgos - e quatro vira-latas. Um deles, ela salvou da morte, numa estrada. Outros, salvou do abandono, na rua.
Em 74, miss três vezes 
A história de ser miss começa com uma brincadeira. Aos 18 anos, linda, namorada de um médico e aluna do 1º ano de Psicologia da PUC, em São Paulo, a pedido do pai Wilson, representa o Botafogo FC e leva o título de miss Ribeirão.
Em Campinas, dois meses depois, disputa o Miss São Paulo. No hotel onde se hospeda com as concorrentes, Sandra mostra que é prudente não deixá-la brava.
Conta que haveria um jantar de gala e resolveu clarear o cabelo. Mas acabou se atrasando.
"As misses, já no salão, diziam que eu queria aparecer. Desci como estava, com uma camisola transparente e o cabelo com a tinta escorrendo. Foi minha primeira aparição. E fiquei conhecida mesmo", diz, rindo.
Sandra nunca obedeceu o protocolo. "Elas acordavam com cinco centímetros de pancake, cílios postiços, batom. Eu, sem pintura, ia de calça jeans, camiseta branca básica, rabo-de-cavalo"...
Sandra vence o concurso apresentado por Walter Forster, ganha um Fuscão branco, tranca a matricula na PUC e vai para Brasília disputar o "miss Brasil".
Em Brasília
Desembarca em Brasília com "tudo em cima": 1m72 de altura, 59 quilos, 62 cm de cintura, 88 cm de busto e 88 cm de quadris. Diante de milhões, pela TV, vence a gaúcha Janeta Hoeveler (2ª colocada) e a candanga Marisa Sommer.
"Clodovil fez meus trajes. O típico, era a camisa 10 do Pelé, com cinco camadas de lantejoulas amarelas e bordado em verde". 
Só com a coroa e o cetro de Miss Brasil, Sandra se dá conta, finalmente, de que é uma linda mulher.
"Eu me achava muito feia. Aos nove anos, tinha pernas tortas. Precisei usar aparelhos e bota ortopédica para corrigir"...
Em Manila 
A cerimônia de miss universo, em Manilla, foi em 19 julho de 1974. Mas nos dez dias que antecederam o concurso, Sandra cintilou nas Filipinas.
Depois de ter sido obrigada pelo protocolo a conhecer a coleção de sapatos de Imelda Marcos, a primeira dama do país - mais de cinco mil pares dispostos em prateleiras - ela decidiu que, sempre que pudesse, cairia fora do roteiro oficial.
Em Manila, fez amigos e deixou legião de fãs
Fora do programa oficial, contratou um charreteiro para levá-la a todos os cantos de Manila. Queria ter contato com o povo. Era amiga das garçonetes do hotel. Como recompensa, tinha sempre as melhores frutas.
Um dia, na saída do hotel, um homem pobre, deslumbrado com a beleza de Sandra, pediu que ela pegasse seu filho no colo. A polícia não deixou. A ribeirão-pretana empurrou os policiais, esbravejou, passou por baixo do cordão de isolamento, abraçou o menino e o encheu de beijos. O povo aplaudiu.
Outra vez, sozinha, levada pelo charreteiro, Sandra visitou um hospital infantil. Sua presença foi tão significativa que resolveram dar o seu nome ao local.
Um boteco, na periferia, também passou a se chamar ‘Sandra’ depois que a Miss tomou umas cervejas com o dono e cantou com os deslumbrados filipinos.
"Numa festa, disse que estava com calor e mil pessoas vieram me abanar".
A espanhola Amparo Munoz ganhou o concurso, mas na opinião dos jornalistas e do povo, a mais bonita, a mais charmosa, Sandra Guimarães, era quem deveria ter vencido.
Ela retornou ao Brasil de calça jeans, tênis e rabo-de-cavalo. Na camisa básica branca, lia-se "Be nice to me. I´ve a hard say" (Seja legal comigo, tive um dia difícil). Mais Leila, impossível.
Renúncia 
Por isso, poucos estranharam quando renunciou ao título de Miss Brasil em novembro de 74. No mês seguinte, casou-se com o cardiologista João Bosco, de quem se separaria dois anos depois.

No Rio de Janeiro, fez jornalismo e foi aprovada, em 79, em concurso da Globo, entre milhares de candidatos. Na redação, conheceu o diretor e jornalista da Globo Fernando Waisberg, com quem teve Jonas e viveu sete anos.
De volta a São Paulo, trabalhou no Banana Bar de José Victor Oliva. Fazia coquetéis das 16h às quatro da manhã. Tocava a boate.
Tinha dez auxiliares, preparava os drinques dançando. Um dia se viu sobre o balcão, sapateando. Ganhava bem, mas trabalhava muito. Agora, simplificou tudo: é decoradora, tradutora de italiano e vive entre os bichos. Mais Sandra Guimarães impossível, concorda?

http://www.jornalacidade.com.br/editorias/caderno-c/2013/01/26/sandra-meio-leila-diniz-meio-bardot-nossa-antimiss.html

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