21 setembro 2011

Pra não dizer que não falei de algumas misses



Dizem que o Brasil tem 190 milhões de técnicos de futebol. Este número varia de acordo com a atualização da população do país. Houve um tempo em que tínhamos também 60 milhões de especialistas em misses. A população brasileira era bem menor. O que eu descobri esta semana foi que todos esses 60 milhões de especialistas continuam em atividade. E muitos deles me escreveram depois que dediquei a coluna do último domingo às minhas lembranças dos certames — era assim que a gente dizia naquela época — que escolhiam as misses Guanabara, Brasil, Universo...

A maioria reclamava de o texto não citar Marta Rocha. Foi o que fez, por exemplo, Wilméa Silva Ramos: “Fiquei surpresa ao notar que você escreveu sobre as misses do Brasil e não citou a mais famosa de todas: Marta Rocha. Marta Rocha foi sucesso internacional pela beleza, pela simpatia, pelo lindos olhos e pelo lindo sorriso. O sucesso alcançado por Marta Rocha é que justifica o concurso de misses ainda existir no Brasil. Gostaria de saber por que você a esqueceu!!!”

Não me esqueci de Marta Rocha. Ninguém se esquece de Marta Rocha. Acontece que escrevi sobre minhas lembranças, e, para mim, o concurso (ou certame) só começa quando é realizado no Maracanãzinho. Marta é do tempo de desfiles no Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Quando me dei conta de mim, Marta Rocha já era “a eterna Miss Brasil”. Eu me lembro que ela se casou com Ronaldo Xavier de Lima, que era da turma da Miguel Lemos e que, de vez em quando, a levava para comer uma pizza brotinho no Tommy’s, ali na esquina de Miguel com Ayres Saldanha. Eu me lembro que, em seu apartamento na Avenida Atlântica, já separada, Marta transformou um cômodo em boate. Eu me lembro que ela levou um golpe financeiro das Casas Piano, se aposentou da vida social e foi morar em Volta Redonda.

O leitor Oleg Franco também não perdoa: “Penso que você foi injusto com Miss Vera Lúcia Couto dos Santos. Sim, foi ela que em 1964 quebrou todos os tabus, tornando-se a primeira negra a se classificar em um certame (viu como se falava assim?) de beleza internacional. Vera fez o mais arrebatador desfile no Maracanãzinho com os seus famosos pivôs que faziam a platéia gritar ‘olé, olé!’. Seu traje típico era o ‘Samba, sinfonia de três raças’, de Evandro de Castro Lima. Seu vestido de gala tinha 1.400 pérolas. Ela ficou em terceiro lugar no Miss Beleza Internacional, em Long Beach, onde também foi eleita Miss Fotogenia. Foi a primeira ‘colored’, como se dizia na época, a se classificar. Depois dela, quatro negras já foram Miss Universo.”

Eu apenas quis destacar o pioneirismo de Aizita Nascimento (se bem que ela nem foi pioneira, como se verá daqui a pouco). Mas é claro que eu me lembro de Vera Lucia Couto. Eu me lembro que ela foi a inspiração de João Roberto Kelly para compor a marchinha de carnaval “Mulata bossa nova”. Eu me lembro que ela ganhou o Miss Renascença em 1965, quando a favorita era Esmeralda Barros. Eu me lembro que, até pouco tempo, Vera Lucia trabalhava na Riotur. Eu me lembro que, no Miss Brasil, o Maracanãzinho dividiu-se entre Vera, a Miss Guanabara, e Angela Vasconcellos, a representante do Paraná, e gritava: “Guaraná!”. Eu me lembro que a Paraná ganhou. Eu me lembro que Angela Vasconcelos usava óculos.

E, para encerrar esse papo Catalina, vários leitores me corrigiram, lembrando que a primeira miss negra foi Dirce Machado, que, em 1960, tirou quarto lugar no Miss Guanabara.

http://oglobo.globo.com/cultura/xexeo/



COLUNA DA REVISTA O GLOBO (18/09/2011)


Eu me lembro de Maria Augusta batendo com uma bengala na passarela para indicar o que as misses deveriam fazer. Eu me lembro do Maracanãzinho lotado. Eu me lembro que os apresentadores eram Paulo Max e Marly Bueno. 

Eu me lembro de Georgia Quental, a Miss Flamengo que foi desclassificada porque já tinha desfilado profissionalmente. Eu me lembro que a Miss Renascença Aizita Nascimento foi a primeira negra a participar do concurso. Só não me lembro se ela ganhou. Acho que não. 

Eu me lembro que, na semana seguinte ao concurso de Miss Universo, “O Cruzeiro” sempre trazia uma reportagem com a eleita tomando café da manhã na praia. De maiô, cetro e coroa, é claro. 

Eu me lembro dos maiôs Catalina. 

Eu me lembro de Gina MacPherson — Miss Botafogo, Miss Guanabara, Miss Brasil —, que provocou escândalo ao namorar o motorista que estava à sua disposição em Miami. Eu me lembro que o Miss Universo era em Miami, o Miss Beleza Internacional em Long Beach e o Miss Mundo em Londres. 

Eu me lembro que a coroa sempre caía da cabeça da Miss Brasil. 

Eu me lembro que lá em casa a torcida era sempre para a Miss Rio Grande do Sul, mas eu, que já era do contra, preferia a Miss Guanabara. 

Eu me lembro do tempo em que o concurso de miss era só um quadro do “Programa Silvio Santos”, e que a gente $com a impressão de que, a qualquer momento, ele iria gritar: “Quem quer dinheiro?” 

Eu me lembro da Rainha do Café Julieta Strauss, que não era miss, mas era como se fosse. Eu me lembro que o traje típico de Miss São Paulo era sempre colhedora de café. 

Eu me lembro da mineira Maria Stael Abelha, que renunciou ao título de Miss Brasil para se casar. Eu me lembro das irmãs gêmeas Elizabeth e Ana Cristina Ridzi disputando o Miss Guanabara. Como decidir qual era a mais bonita? 

Eu me lembro da gaúcha Ieda Maria Vargas ganhando, finalmente, o Miss Universo. Alguns anos depois, a baiana Martha Vasconcellos levou o título. E, quando a gente já pensava que era uma espécie de Venezuela, nunca mais chegamos lá. Ieda virou uma apresentadora de TV famosa no Rio Grande do Sul. Martha Vasconcellos... que fim levou Martha Vasconcellos? 

Eu me lembro de Vera Fischer quando ela ainda era Miss Santa Catarina. Eu me lembro que a primeira Miss Brasília era uma empregada doméstica. Eu me lembro que todas liam “O Pequeno Príncipe”. Eu me lembro da Miss Grécia Corinna Tsopei, que foi Miss Universo e, depois, interpretou uma índia sioux no filme “Um homem chamado Cavalo”. 

E por que eu estou me lembrando disso tudo? Porque eu acho que vou sempre me lembrar de Miss Angola ganhando o Miss Universo no Brasil.

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