18 agosto 2010

Ex-Miss Bolívia é a arma secreta de Evo Morales contra o tráfico de cocaína

Evo Morales e Jessica Burton, num comício, no início do ano  
Evo Morales e Jessica Burton, num comício, no início do ano (Foto: Daniel Caballero/Reuters)
Num país onde a folha de coca é património nacional, a luta contra o tráfico de droga pode dar umas voltas estranhas. Cartéis do subcontinente estão a tomar posição.
 

O Presidente da Bolívia, Evo Morales, que é também cocalero (cultivador de coca), reconheceu pela primeira vez que os traficantes de cocaína estão mais bem equipados do que a polícia e as Forças Armadas do seu país e apelou à ajuda internacional. E qual a sua arma secreta para lutar contra o avanço da droga numa das províncias mais remotas desta nação andina, onde os narcos mexicanos, brasileiros e de outros países se estão a instalar? A Miss Bolívia 2006, a bela Jessica Anne Jordan Burton.

Toda a Miss tem a oportunidade de dizer o que faria para tornar o mundo melhor, mas a morena que representou a Bolívia no concurso Miss Universo de 2006 - o mesmo ano em que Evo Morales chegou ao poder - terá a oportunidade de o demonstrar. Com uma ajuda do amigo Presidente - que há duas décadas é também presidente da união dos sindicatos dos cultivadores de coca do Chaparé.

Jessica Burton é um bom trunfo para Morales, numa nação que se divide ideologicamente entre indígenas e descendentes de europeus - uma divisão incentivada pelo próprio Presidente, aliás. A ex-Miss, de forma atípica para quem vem da cidade de Santa Cruz, capital do departamento do mesmo nome, na zona mais rica e branca da Bolívia - protagonista da oposição a Morales -, até "flirtou" com o Presidente numa cerimónia pouco tempo depois de ter sido eleita, dizia o Sunday Telegraph.

A ex-Miss transformada em política tinha-se candidatado a governadora de Beni, pelo partido de Morales, mas perdeu as eleições, na Primavera. Agora o Presidente nomeou-a sua representante na província, uma espécie de "vice-rainha", com poder para lançar projectos de desenvolvimento, para lutar contra a droga.

Beni, no Nordeste do país, está em grande parte coberto por floresta tropical. Faz fronteira com o Brasil e é um dos maiores departamentos mas um dos menos povoados, onde a pobreza é grande. Agricultura e criação de gado são praticamente as únicas actividades económicas legais - as ilegais têm a ver com o tráfico de cocaína, com laboratórios de transformação da coca em droga escondidos em quintas de aspecto inocente.

Morales, o primeiro Presidente com sangue indígena, fez da folha da coca cultivada tradicionalmente pelos índios património cultural do Estado Plurinacional da Bolívia, na Constituição de 2009. Esta relação especial com a coca e os interesses que o Presidente representa têm tido um papel importante na forma como a Bolívia actua contra o narcotráfico.

De acordo com o relatório de 2010 do gabinete da ONU para a droga e a criminalidade (UNODC), a área de cultivo de coca mais do que duplicou (112 por cento) na Bolívia entre 2000 e 2009. O país, onde podem ser plantados legalmente 12 mil hectares para usos tradicionais, é o terceiro maior produtor de folha de coca, atrás do Peru e da Colômbia. Só que, muito para lá do limite legal, a UNODC registou a existência de 30.900 hectares plantados com coca na Bolívia - e para algum lado essa produção valiosa há-de ir. Entre Janeiro e Agosto, foram apreendidas 20 toneladas de droga, destruídos 17 laboratórios e presas 2446 pessoas, segundo os números oficiais.

Segundo a ONU, o tráfico de cocaína na Bolívia ainda é modesto: movimentará cerca de 500 milhões de dólares, dos 72 mil milhões que põe em movimento em todo o mundo. Mas na Bolívia, que em 2008 expulsou a agência dos Estados Unidos para a luta contra o tráfico de droga (ver link), há cada vez mais sinais da presença dos grandes cartéis mexicanos (Zetas) e brasileiros (Primeiro Comando da Capital, por exemplo).

http://www.publico.pt

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