15 maio 2010

A fábrica de misses de Minas


Três das últimas quatro finalistas do concurso Miss Brasil receberam o treinamento de um empresário que caça beldades por paixão. Como ele acerta?
 
Leopoldo Mateus, de Divinópolis, MG                              revistaepoca.globo.com
  Reprodução
VIDA DE RAINHA?
Débora Lyra, a nova Miss Brasil. Ela teve mordomias, mas acordava todo dia às 5 horas para malhar. E nada de namoro
Até uma década atrás, Divinópolis, cidade de 220 mil habitantes a 100 quilômetros de Belo Horizonte, era conhecida pelas confecções de roupas – e não pelas belas mulheres que a recheavam. De 2000 para cá, além de blusas e calças, a cidade passou a ser conhecida também por fabricar misses em escala industrial. É a Venezuela brasileira, por onde passaram três das últimas quatro finalistas dos Miss Brasil. A lista inclui Natália Guimarães, vice-Miss Universo em 2007, Rayanne Morais, vice do Miss Brasil de 2009, e Débora Lyra, dona da faixa de Miss Brasil desde o dia 8.
A “fábrica de misses” foi inaugurada em 1999 por José Alonso Dias. Dono de cinco revendas de automóveis na cidade, Dias era jurado do Miss Brasil e presenteava as campeãs com veículos de suas lojas. Até que decidiu montar uma empresa especializada em outro tipo de máquina. Montou a produtora de eventos que organiza o concurso de Miss Minas Gerais e dedica-se, pessoalmente, à preparação de algumas concorrentes. “Recebo cartas e vídeos, do Brasil inteiro, de meninas que sonham com a faixa de campeã”, afirma. Zé Alonso, como é conhecido, diz selecionar criteriosamente as garotas que vão participar do projeto. “Eu olho a estampa, converso com os pais, procuro saber da moral das meninas e faço até enquete na cidade de origem para saber se elas realmente não são levianas.” Elas têm de ter entre 18 e 23 anos. Se aprovadas em todos os quesitos – físicos e morais –, são levadas para um apartamento no centro de Divinópolis. Lá moram quatro de cada vez. Sob a vigilância do tutor, não podem sequer namorar. “Quando aparece uma muito viciosa por aqui, roda rápido!”, diz. Natália Guimarães, que tinha namorado quando foi para lá, rompeu. “O caso com o Aécio foi só depois do Miss Brasil. Aí, eu não apitava mais.”
O apartamento de 300 metros quadrados é confortável. Cada candidata tem sua suíte, com computador e TV a cabo. Mas as regras são severas. “Elas têm vida de rainha aqui, mas têm de se comportar. Se eu descubro qualquer coisa de errado, mando de volta para casa.” Nenhuma candidata leva vida de gata borralheira. Elas têm passadeira, arrumadeira e cozinheira à disposição. “Estou aqui há dois anos e já emagreci bastante”, diz a cozinheira Ludmila Ribeiro, de 23 anos. “Doce não entra. O Zé Alonso me mata!” Ela prepara peixes grelhados, saladas e sanduíches naturais.
A preparação inclui dieta, ginástica, tratamento
estético, aulas de boas maneiras e até de idiomas
Apesar das mordomias, a rotina é puxada na fábrica de misses. “É uma correria impressionante”, diz a deslumbrante Rayanne Morais, de 21 anos, vice do ano passado. O dia começa cedo e com malhação pesada. “Eu acordava às 5 da manhã e ia malhar. E olha que era só o começo”, afirma Débora Lyra, recém-empossada no trono. A dedicação de Débora é confirmada pela personal trainer. “Ela nunca se atrasava. É uma mulher impressionante”, afirma Patrícia Bila. As duas horas de academia são seguidas por três horas em uma clínica de estética. “Aqui desaparecem celulite, flacidez e gordura localizada. Se elas saírem daqui e tiverem de tirar uma foto cinco minutos depois, estarão preparadíssimas”, afirma Maria Letícia Cardoso, funcionária da clínica. Para completar o tratamento, elas vão a Belo Horizonte tomar injeções que queimam a gordura localizada.
Por volta de 1 hora da tarde, as jovens beldades almoçam e recomeça a odisseia, na qual elas ainda encontram tempo para três banhos diários. Na segunda-feira, dança flamenca. Terça-feira e quinta-feira, conversação de inglês. Segunda-feira e quarta-feira, elas podem estudar outras línguas. Uma vez por semana, aula de etiqueta. “Aprendemos a nos comportar à mesa. Jeito de sentar, segurar o talher, voltar a cadeira para o lugar”, diz Camila Brant, de 20 anos. “Recebemos uma formação completa. Estudei inglês, espanhol e alemão em Divinópolis”, afirma Débora. À noite, o desfile é na faculdade. A maioria delas faz jornalismo. Para cumprir tantos compromissos e desfilar em tantos ambientes num só dia, elas têm motorista à disposição o dia todo. Mesmo assim, tirar carteira de habilitação é obrigatório.
A apresentadora Renata Fan foi levada para Divinópolis em 2001. Ela já tinha sido Miss Brasil e foi moldada para o Miss Universitária Mundial. Depois de dois anos de preparação, tornou-se a única brasileira a vencer o concurso. São os passos dela, de Natália e de Débora que a nova aposta de José Alonso quer seguir. Camila Brant está sendo preparada para daqui a dois anos. É de Patos de Minas. “O Zé fez uma entrevista comigo. Eu já trabalhava como modelo.” Ela é uma das garotas que moram no apartamento atualmente, mas logo vai sobrar vaga.“Estou me mudando para o Rio”, afirma Débora.
Zé Alonso não poupa gastos quando o assunto é fazer as moças brilhar. “Paguei um curso para Débora, nos Estados Unidos, no ano passado. Em quatro meses, gastei R$ 40 mil.” Ele garante não ter lucro, embora ganhe indiretamente com a produção do Miss Minas. “Nunca tomei um centavo delas. Faço tudo porque gosto.” Garante que nunca se envolveu com nenhuma delas. “Sou homem, mas tenho o maior respeito.” Zé tem 65 anos, é casado, tem três filhos e três netos. Diz que mexe com isso porque é sua paixão. “Se quisesse pegar mulher era fácil. Muitas adoram dinheiro. Faço para ajudá-las.” Divinópolis é conhecida como a Princesa do Oeste mineiro. Quando saem de lá, as moças estão prontas para se tornar rainhas. Graças ao Zé.
Talhadas para a faixa
Três das mulheres que passaram pela linha de montagem de Divinópolis
  
Divulgação
Camila Brant

20 anos


“Lutei toda a minha vida por isso. Queria muito ser Miss Brasil”


Títulos
Miss Brasil Intercontinental em 2009
Leonardo Lara
Natália Guimarães

25 anos


“É difícil passar a faixa. uma vez miss Brasil, sempre miss”


Títulos
Miss Brasil em 2007 e vice-Miss Universo
  Divulgação
Rayanne Morais

21 anos


“Segui tanto as regras que continuo sem namorado”


Títulos
Miss Minas 2009
    

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